O Samadhi é um estado além da meditação, em que a consciência se funde ao objeto de contemplação, resultando em uma experiência de unidade total. Embora central nos ensinamentos do Yoga, o Samadhi é menos conhecido no Ocidente, onde é visto como um estado de alívio das exigências do mundo.
O Samadhi não cabe em palavras, mas podemos tentar defini-lo como um estado além da meditação e de profunda absorção mental, no qual a consciência individual se funde com o objeto de contemplação, resultando em uma experiência de unidade e transcendência.
No contexto ocidental e contemporâneo, porém, a prática de Yoga muitas vezes se concentra mais nos Asanas, ou posturas físicas, do que nos aspectos mais sutis do Yoga, como o Samadhi — mas este também é um dos oito estágios fundamentais do Yoga, delineados por Patanjali nos Yoga Sutras, assim como os Asanas.
Embora poucas pessoas alcancem verdadeiramente o Samadhi, a ideia de contemplação e busca pela integração oferece um alívio bem-vindo em um mundo cada vez mais corrido e exigente.
Neste artigo, vou explorar mais a fundo o significado do Samadhi, mostrando como pode ser feita sua prática para alcançar todo o autoconhecimento e transformação que o Yoga pode nos trazer. Vamos lá?
O que é Samadhi?
Samadhi é uma palavra que tem suas raízes na antiga tradição filosófica do Yoga e, em termos simples, pode ser entendido como um estado de profunda meditação ou absorção mental, em que a consciência individual se funde com o objeto de sua contemplação, resultando em uma experiência de unidade e transcendência.
A palavra Samadhi é derivada do sânscrito e pode ser traduzida por contemplação, ou seja, o ato de dedicar uma atenção totalmente plena.
O conceito de Samadhi pode ser interpretado hoje de maneira ampla e moderna: em um mundo cada vez mais fragmentado e distraído, o Samadhi pode ser um estado de integração e total concentração no momento presente, livre do caos externo, das distrações da mente e das preocupações do ego.
Por isso, o Samadhi moderno pode ser buscado por qualquer pessoa que deseja encontrar paz interior, clareza mental e conexão com o mundo ao seu redor — embora este seja um processo simples, mas não fácil de se alcançar.
De acordo com os ensinamentos de Patanjali, o Samadhi é considerado o último dos oito estágios do Yoga — que abordam desde os princípios éticos e disciplinares (Yamas e Niyamas) até as práticas físicas (Asanas) e de controle da respiração (Pranayama), e a meditação em seus diversos níveis de profundidade (Pratyahara, Dharana e Dhyana), com objetivo de preparar a mente e o corpo para a realização do Samadhi.
Quais são os tipos de Samadhi?
Se em Pratyahara retiramos os sentidos do mundo externo, permitindo que a atenção se volte para dentro, em Dharana, nos concentramos de forma intensa em um objeto de meditação específico, para desenvolver o foco e a concentração e chegar à Dhyana, a concentração, com objetivo de fundir totalmente o objeto de meditação e a consciência do praticante, levando a um estado de total contemplação da realidade: o Samadhi.
Os três tipos de Samadhi são conceitos encontrados na tradição do Yoga, para descrever diferentes estágios dessa absorção mental ou estados de consciência alterados alcançados através da prática meditativa. Vamos conhecê-los.
Khanika Samadhi
Este é um estado de absorção inicial e transitório, quando a mente se torna completamente focada e unificada com o objeto de meditação por um curto período de tempo.
É como se a consciência entrasse em um estado de união momentânea, mas a experiência não é mantida, retornando à Dhyana, a concentração profunda.
Upacara Samadhi
Neste estágio, a união com o objeto de meditação se sustenta de forma mais contínua, podendo durar desde alguns minutos até várias horas.
Durante o Upacara Samadhi, a consciência se torna completamente imersa no objeto de meditação, e o praticante experimenta uma sensação de tranquilidade, clareza e unidade, sem ver sequer o tempo passar.
Appana Samadhi
Como estado mais profundo de absorção mental, o Appana Samadhi é caracterizado por uma completa dissolução do eu e uma fusão total com o objeto de meditação, por tempo indeterminado.
Neste estágio, não há mais separação entre o observador e o observado, somente a experiência direta e imediata da realidade em sua essência pura. É descrito como um estado de êxtase ou iluminação, em que a mente alcança um nível supremo de paz, felicidade e compreensão.
Como alcançar o Samadhi?
Alcançar o Samadhi é uma jornada que requer profunda dedicação e prática diligente ao longo de bastante tempo.
Teoricamente, o caminho para o Samadhi é delineado nos ensinamentos do Yoga, pela progressão dos seus oito estágios, como descrito por Patanjali. Em sua época, na Índia, o Yoga tinha também uma tradição espiritualista em que os praticantes, chamados yogis, dedicavam toda a sua existência à prática para alcançar uma iluminação, que chamavam, então, de Samadhi.
No ocidente de hoje, no entanto, alcançar o Samadhi pode não ser o objetivo dos praticantes de Yoga em geral, que buscam os benefícios de cada estágio, ou seja, encontrar equilíbrio, saúde mental e bem-estar emocional com a prática do Yoga, mas que não tem como objetivo a iluminação.
Ainda assim, o conceito de Samadhi é uma imagem poderosa da relação entre o eu individual e o mundo que o rodeia. Numa sociedade cada vez mais acelerada e exigente, que nos torna ansiosos pelo futuro, a ideia de Samadhi pode ser um convite à integração e à vivência da realidade do presente.
Como saber se alcancei o Samadhi?
Você deve ter percebido que o Samadhi é a transcendência em si, ou seja, não cabe em nenhuma palavra já criada ou inventada, não pode ser exatamente descrito, por ser um estado de união total.
No Samadhi, o egoísmo é transcendido levando à desidentificação com o corpo, emoções e pensamentos, quando a consciência se dissolve na unidade com o objeto de meditação — que é, na verdade uma metáfora para o cosmos, o todo — e pode perdurar por períodos prolongados, às vezes anos.
Por isso, quanto mais nos apegamos à ideia de conhecer ou descrever o Samadhi, mais distantes estamos dele, que emerge do silêncio mental, da ausência de conceitos e da entrega completa à experiência do momento presente.
Assim, o Samadhi pode parecer uma recompensa final, mas sua verdadeira natureza é revelada quando nos permitimos transcender o desejo de compreendê-lo intelectualmente e simplesmente nos entregamos ao silêncio da consciência absorvida em si mesma.
Sobre Claudia Faria
Claudia Faria é fundadora do método Yoga Adventure. Pratica Yoga desde os 14 anos, idade em que decidiu se tornar professora, e, aos 19, formou-se na primeira universidade de Yoga do país, Belas Artes e FAINC. Já ministrou cursos, palestras e workshops no Brasil, Estados Unidos, Europa e Argentina, e hoje atua como CEO do Grupo YA. É também escaladora e formada em Medicina Veterinária.