Pratyahara é a abstração dos sentidos no Yoga, como parte do estado de meditação. Pode ser praticado durante os Asanas (posturas) e Pranayamas (respiração), mas também nas atividades mais cotidianas.
No ocidente contemporâneo, o Yoga tem como principal objetivo criar um caminho para o despertar da autoconsciência e do controle sobre si, buscando equilíbrio nos diversos aspectos da vida.
O caminho do Yoga, porém, não é aleatório.
O Yoga propõe práticas graduais, como uma espécie de escada, em que cada degrau tem seu grau de independência, mas todos estão interligados e uns levam diretamente aos outros:
- Yamas (virtudes, como não-violência);
- Niyamas (comportamentos, como a luta contra o desejo);
- Asanas (posturas físicas);
- Pranayama (exercícios de respiração);
- Pratyahara (abstração dos sentidos);
- Dharana (foco);
- Dhyana (meditação);
- Samadhi (iluminação).
A sequência entre eles gradualmente leva o praticante para dentro de si, começando pelos aspectos mais externos (yamas e nyamas), passando pelos fatores materiais e físicos (asanas, pranayama e pratyahara) até o controle das energias mais sutis (dharana, dhyana e samadhi).
Embora exista um porquê nessa sequência, os princípios do Yoga podem ser praticados independentemente dessa ordem. Ou seja, você pode realizar os asanas e o pranayama na aula de Yoga, mas também exercitar o Pratyahara e o Dharana em qualquer atividade diária, como lavar a louça — mantendo-se focado e presente nessa atividade.
Vem comigo, que vou te explicar melhor como é possível praticar o Pratyahara dentro e fora das aulas de Yoga, e como essa compreensão pode trazer benefícios à sua prática e principalmente aumentar o bem-estar.
O que significa Pratyahara?
No Yoga, o Pratyahara é praticado para promover um estado de presença constante, em que conseguimos controlar o que entra na mente (pensamentos, estímulos) e no corpo (alimento, substâncias) e também como reagimos a esses elementos externos.
Esse significado está na própria palavra. De origem sânscrita, Pratyahara vem da união de pratya (movimento contra ou controle) e haras (o que você “põe para dentro”).
Se os haras são o que colocamos para dentro, então inicialmente estão fora do corpo e são percebidos por nossos cinco sentidos físicos: visão, audição, paladar, olfato e tato. Por isso, uma das traduções possíveis para Pratyahara seria uma espécie de abstração de todos esses sentidos.
Em que consiste essa abstração dos sentidos?
Você já esteve na presença de um som alto e constante, que causou irritação em você, mas curiosamente passou despercebido por outras pessoas? Será que o que vimos e julgamos belo ou feio é assim considerado por todas as pessoas do mundo?
Para o Yoga, os 5 sentidos nos trazem informações sobre o mundo exterior, mas a interpretação dessas informações é algo extremamente pessoal, assim como as reações a elas, que são na realidade frutos dessas interpretações.
Assim, o que os sentidos percebem do mundo exterior poderia ser considerado uma espécie de impressão ilusória da realidade, mas que provoca reações físicas e emocionais bastante concretas e automáticas, ou seja, não conscientes.
Na prática do Pratyahara, é preciso compreender que o que os sentidos percebem não reflete o mundo interior, mas é resultado do caos do mundo exterior com o qual podemos ou não nos identificar.
A tomada de consciência desse processo seria o que nos permite controlar não somente o que entra por nossos olhos, ouvidos, pela boca e pelo toque, mas também o que sai de nós em direção ao mundo como resultado desses estímulos.
Somente quando conseguimos abstrair esses elementos externos, percebidos pelos sentidos, é que podemos realmente direcionar nossa concentração para a percepção do que está dentro de nós, nosso corpo e nossa mente, tomando posse das nossas ações e decisões.
A prática dos Asanas e do Pranayama é um jeito de treinar o corpo e a mente para o Pratyahara: quando nos mantemos nas posturas, lidamos com a dor dos músculos, com o barulho externo do ambiente e com nossos pensamentos intrusivos.
No momento em que começamos a nos desconectar desses elementos, a concentração aumenta — sentimos a dor muscular, mas não nos identificamos com ela, ouvimos o trânsito na cidade, mas não nos identificamos com ele —, desenvolvendo resistência e constância. Esse é o Pratyahara.
Pratyahara é meditação?
A divisão em 8 princípios e práticas do Yoga é importante, mas não exclui o fato de que esses princípios estão todos interligados e são totalmente interdependentes.
Realizar os Asanas exige uma concentração meditativa, assim como meditar exige uma postura física constante. Nesse sentido, a abstração dos sentidos é um estágio pré-meditativo, um degrau para a meditação, uma vez que não é possível meditar sem se desconectar dos estímulos do ambiente.
No fim desse pensamento, você pode ver claramente que todo o Yoga é, de alguma forma, meditação, das práticas mais comunitárias, como a não-violência, até o estado de maior consciência. Todo o processo e cada uma de suas partes são essencialmente meditação.
Como praticar o Pratyahara?
O Pratyahara pode ser praticado como parte da sua meditação diária e nas aulas de Yoga, mas também pode fazer parte do seu dia a dia, nas atividades de todos os tipos, das mais complexas às mais cotidianas.
A repetição de movimentos ou sons, assim como observar um ponto fixo e manter a sustentação do corpo (como nos Asanas) são ferramentas para exercitar o Pratyahara, pois levam o foco para um único sentido e facilitam nossa desconexão com os demais estímulos.
Prestar atenção na respiração durante o Pranayama é outra forma de praticar o Pratyahara e visualizar esse processo internamente. Repetindo incessantemente, também pode nos ajudar na abstração dos sentidos.
Além das práticas específicas do Yoga, qualquer atividade, por mais banal, em que você consegue manter-se presente, prestando atenção em cada detalhe do que faz e como se sente ao fazer, é o Pratyahara na prática do dia a dia.
Ao fazer uma refeição, se saboreamos o alimento e sentimos seus aromas, sua textura, sua temperatura em detalhes, estamos exercitando o foco em um único sentido, trazendo nossa mente para o presente, como é o objetivo do Pratyahara.
Continue sua jornada de conhecimento! Confira o próximo post em que explico o Dharana, o estado de concentração profunda!
Sobre Claudia Faria
Claudia Faria é fundadora do método Yoga Adventure. Pratica Yoga desde os 14 anos, idade em que decidiu se tornar professora, e, aos 19, formou-se na primeira universidade de Yoga do país, Belas Artes e FAINC. Já ministrou cursos, palestras e workshops no Brasil, Estados Unidos, Europa e Argentina, e hoje atua como CEO do Grupo YA. É também escaladora e formada em Medicina Veterinária.